Site Meter CASA DAS IDEIAS: UM DIA PARA FICAR NA CAMA - PARTE FINAL

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

UM DIA PARA FICAR NA CAMA - PARTE FINAL

Alguém trouxe um short de salva-vidas e uma camiseta, e depois de colocar as roupas molhadas numa sacola montei no triciclo...
Em menos de meia hora percorremos o restante de barracas até o Posto VI, onde a chuva incumbiu-se de mandar as mães e crianças para casa. Caminhei até o primeiro quiosque que vi, e me deixei cair numa das cadeiras.
O telefone tocou novamente, era minha esposa. Disse-me que haviam ligado do trabalho me procurando, e que se, por acaso, não aparecesse ainda hoje, amanhã poderia ir direto ao departamento pessoal.
— Mas eles ao menos perguntaram por que não fui?
— Disseram que você estava na praia e ainda por cima destratou a secretária do chefe.
— Mas será que eles não escutam rádio?... Não vêem televisão?.... Eu estava tentando salvar uma criança que foi atropelada e ainda quase morri...
— Então é você? Não acredito! O louco que está percorrendo toda a cidade dizendo que mataram uma criança atropelada... E estão tentando esconder o corpo...
— Como é que é?
— Sabe de uma coisa? Chega!!!!! Não agüento mais suas loucuras. Você para arrumar um outro trabalho para ajudar em casa, não tem a menor disposição. Mas, para se meter na vida dos outros, não espera nada.....
— A história esta toda errada... Não é nada disso, talvez você, se me deixar explicar sinta até orgulho de mim.
— Não, chega... Sabe... Acho melhor não... Não vai adiantar... Quando acabar sua loucura passa em casa e pega suas coisas. Eu estou me separando de você, vai ser melhor para os dois. Ah! Chega... Chega...
— Alô... alô....... e o DVD, o som, os travesseiros que compramos juntos...
... Bem, agora está tudo certo... Acabei de perder a mulher... O emprego...Preciso morrer imediatamente.... baixei a cabeça sobre a mesa...
— O que é isso, onde estou? Que lugar é esse, todo mundo de branco, meu Deus será que morri mesmo? Há quanto tempo estou aqui?
— Calma, amigo, você está num hospital, teve uma insolação forte, desmaiou, chamaram a ambulância e o trouxemos...
— Mas cadê minha pasta, minha roupa?....
— Está guardado, não se preocupe.



Aos poucos fui me ambientando, percebi que estava no soro. Havia macas por todos os lados, todas com gente, acompanhantes falando, enfermos gemendo, uma movimentação frenética. Sentia um cansaço enorme. Eu fora início, meio e fim da minha própria história, não podia culpar ninguém, sequer a secretária. Talvez devesse estar agradecido, pois, uma daquelas balas poderia ter me atingido e não teria a menor chance de ser demitido pelo chefe e por minha esposa...
Quanto tempo ficarei aqui?... Quando poderei ir embora tomar um banho? — Pensei, apoiei-me e levantei a cabeça...
Meu Deus, não é possível, estou vendo coisas... Olha lá, a mulher com as crianças, minha cabeça tonteou...., ela esta indo embora....
— Espera... Espera..... Levantei-me da maca, o soro soltou-se, as pessoas ao redor arregalaram os olhos com minha figura e fúria. Não poderia deixar escapar, merecia saber o que houve, se era, ela mesmo, ali na minha frente. E era...
— Parem essa mulher, gritei.
— Segurança... Segurança... Alguém gritou... Mas, era para mim.
A mulher parou assustada... Virou-se, pude ver com toda clareza do mundo que era ela e com as crianças. Uma delas tinha uma bandagem em torno das costelas.Um casal que à frente, retornou e olhou-me espantado... Aos poucos suas feições transformaram-se em outra coisa que não pude identificar. Resolvi não esperar e antecipei-me, jogando-me aos pés do menino... Os seguranças já me cercavam.
— Você está bem?
— Xi!!! Olha aquele moço da praia... Mãe, Pai. Foi esse moço aqui!
— O que aconteceu? — Perguntei
— Houve uma fissura na quarta costela e achamos por bem engessar para acelerar a recuperação, disse o homem que os acompanhava.
E o senhor? Como está? Perguntou-me o pai. Soubemos de toda sua saga e gostaríamos de recompensar...
Sorri...
Fez-se silêncio, todos estavam parados naquele salão. Levantei-me, dei um último olhar para o garoto e deitei-me em minha maca com os olhos voltados para a parede.

FIM.

Nenhum comentário:

Postar um comentário